No período de transição
compreendido entre o final do século XIX
e começos do século XX, damos conta de uma mudança nas propostas do conhecimento
geográfico. A partir de 1870, a geografia encontrava-se em crise, pois existia
uma séria ameaça na integração global do conhecimento geográfico dentro de
outras ciências. A geografia do século XX tenta dar soluções à reformulação do
conhecimento geográfico de tal forma que consolida-se, impedindo que a
geografia seja absorvida por outras ciências.
Dentro desta Geografia
clássica podemos distinguir várias correntes:
- O determinismo positivista
- O possibilismo ou regionalismo
- O anarquismo
- A geografia quantitativa
- A geografia do comportamento e da percepção
- A geografia radical
- A geografia humanista
Determinismo positivista
Foi o primeiro paradigma a caracterizar a geografia que
emerge no final do século XIX. Existem
dois focos fundamentais, um na Alemanha com Ratzel e outro nos Estados Unidos com William Morris Davis.
No que diz respeito a Ratzel, cabe dizer que foi a figura mais destacada
da escola alemã. Na Alemanha a Geografia existia em quase todas as
universidades como especialidade independente, graças a uma longa tradição
geográfica nesta área do continente europeu. Ratzel quis fundir a corrente
positivista com a necessidade de uma geografia (física e humana) que permitisse
ao pensamento geográfico ter uma unidade dentro do campo da ciência, onde
desempenharia um papel de ciência, ponte entre as ciências da natureza e o estudo
do homem.
O possibilismo ou
regionalismo
A corrente filosófica do possibilismo afirma que a natureza dá ao homem
uma larga “montra” de possibilidades, (não o determina, não marca uma única
possibilidade na sua forma de ser e de actuar), se pode ou não, conseguir
benefícios, de acordo com o grupo social em que está inserido. Trata-se de uma abordagem
históricista, em que o homem é um agente activo da paisagem, que modelou e
modificou a natureza ao longo do tempo. O principal impulsionador destas teorias foi
Paul Vidal da Blache. Este investigador foi qualificado como o fundador da geografia Moderna, em seu sentido
corporativista, à que chegou por uma via indirecta, já que
inicialmente era historiador. A sua formação permitiu-lhe repensar a geografia de
tal forma que reconciliava os geógrafos
com os historiadores, pois segundo os seus pontos de vista,
o homem estabelece relacionamentos com
o meio através do seu legado histórico e dos objectivos afixados pelo grupo a que pertence ,dentro de um
enquadramento regional.
O
Anarquismo
Os
geógrafos anarquistas propõem um novo modelo social integral, que esteja em
harmonia com a natureza. Na maioria, a suas concepções são deterministas,
embora, em ocasiões, recorrem ao chamado “darwinismo social”, isto é aplicar as
teorias de Darwin sobre a evolução e organização das espécies naturais à
humanidade. Propõem um estudo geográfico mediante um método indutivo, isto é
partindo da observação particular da qual pode-se chegar a princípios gerais.
Por outro lado têm uma convicção perante a solidariedade, sociabilidade entre
os homens. Preocupam-se pela didáctica da Geografia e pelos temas concretos
do momento histórico em que vivem, neste sentido, sentem-se mais sensíveis
aos efeitos ambientais e ecológicos do desenvolvimento industrial , inclusive,
chegam a realizar propostas de ordenamento do território.
A
Geografia Quantativista
Na origem e desenvolvimento
da geografia quantitativa, as ideias provenientes do neopossitivismo tiveram
grande importância. Estas ideias caracterizam-se por uma tendência ao empirismo
junto a um grande interesse pela lógica e pelas matemáticas. Diferencia-se do
positivismo pela sua rejeição à interpretação determinista e casual entre o
relacionamento dos fenómenos. O resultado fundamental da extensão destas ideias
foi a rejeição dos métodos qualitativos
no mundo da ciência, generalizando-se em todos os ramos do saber os
métodos quantitativos, que aparecem devido ao grande avanço e desenvolvimento nas
tecnologias do tratamento da
informação(computadores); bem como pelo aparecimento dos novos enquadramentos
teóricos conceptuais; a teoria geral de sistemas, a Teoria da Informação e da
Comunicação, a Teoria da Decisão, a Teoria Heurística.
Neste
enquadramento nasce a nova geografia, isto é, a geografia quantitativa. Em
primeiro lugar, põe-se em questão a ideia consensualmente aceitada , dentro da
comunidade científica de geógrafos sobre o conceito de região. Negando-se a
região como objecto da geografia, e afirmando que não serve para formular leis
com carácter geral. Os modelos quantativistas evoluirão, aplicando o conceito
de probabilidade para o desenvolvimento dos mesmos. Assim, os geógrafos quantativistas
procuram desta forma encontrar uma ordem
espacial, semelhante ao que existe na natureza de tal forma que fazem
desaparecer os conceitos “espaço-temporais”.
A geografia do comportamento
e da percepção
A Geografia
do comportamento está também relacionada com a anterior “Geografia cultural, e com
o conceito de região de Vidal da Blache, bem como os trabalhos de Sauer. Pode
ser dito que no desenvolvimento desta corrente geográfica tiveram grande
influência as propostas da escola de Chicago sobre urbanismo.
A Geografia da
percepção critica os orçamentos positivistas e cientifistas, demonstrando a
pobreza dos modelos teóricos da geografia analítica. Para os seguidores desta corrente, chegou a hora de analisar o comportamento do homem individual
no espaço.
A Geografia do Comportamento e a Percepção terá como
temas de análises preferenciais todos aqueles que estejam relacionados com o
espaço vivido, é o caso das catástrofes
naturais, das condições climáticas do espaço onde se
habita, a avaliação dos recursos, a paisagem, o comportamento espacial na
cidade, o atractivo residencial dos diferentes países e dos diferentes bairros
dentro de uma mesma cidade, etc...
A Geografia Radical
Com
respeito à Geografia Radical há que dizer que dentro desta proposta crítica
encontramos também diferenças quanto às posições, sendo umas mais radicais que outras. O descontentamento sobre as propostas quantitativas está apoiado pelos
problemas reais existentes na América do Norte, onde surgiu esta corrente. Assim os
geógrafos radicais norte-americanos começam por propor problemas como o
deterioramento ecológico, a segregação racial nas cidades, a guerra do Vietname, a
descoberta da miséria e da injustiça social na sociedade norte-americana, e
tomam plena consciência de pertencer a um país imperialista, caracterizado por
ser o maior explorador a nível mundial.
O movimento Radical
crítico começará a dar-se a conhecer entre a comunidade científica
norte-americana, através da realização de revistas de divulgação científica como
“Radical Journal of Geography” e sobretudo, a revista “Antipode”, como órgão
fundamental do movimento radical na Geografia. Contudo em 1969 a já configurada “Association of American Geographers” de Ann Arbor, desenvolveu uma importante função.
Todos os investigadores indicaram que esta Geografia Radical, é uma geografia de esquerdas, que procura entre os seus objectivos, uma sociedade equitativa, onde desapareçam de uma vez por todas a miséria e a injustiça nas suas diversas formas, e que permita conseguir de modo geral, uma sociedade mais livre.
Todos os investigadores indicaram que esta Geografia Radical, é uma geografia de esquerdas, que procura entre os seus objectivos, uma sociedade equitativa, onde desapareçam de uma vez por todas a miséria e a injustiça nas suas diversas formas, e que permita conseguir de modo geral, uma sociedade mais livre.
A Geografia Humanista
Com
respeito à Geografia Humanista,
cabe dizer que esta corrente do pensamento actual da geografia teve o seu
máximo esplendor na década de setenta, sendo que hoje em dia é uma das tendências com mais
força na Europa. Esta geografia
Humanista ou Humanística como também a qualificam, apoia-se na filosofia fenomenológica, bem como no
existencialismo e em alguns escritos de Marx e de neomarxistas como Lukass e
Marcuse. No entanto, também influi na concepção do movimento humanista
geográfico, as ideias e as posições precedentes dos movimentos sociais. A Geografia
Humanística critica as propostas neopositivistas propondo alternativas válidas,
unidas e com carácter de Ciência Social
da Geografia. Pois o quantativismo possui um carácter dogmático e ditatorial,
dando uma visão muito restritiva do ser humano. Poderá afirmar-se que as propostas humanistas voltam
a interessar-se pela Geografia Regional
francesa de Vidal da Blache, no sentido em que muitos destes autores da
Geografia Humanista tentarão conhecer a evolução dos fenómenos, que nos
permitem conhecer o mundo real.
Fonte: Adaptado de GODOY, Paulo Roberto Teixeira. História do pensamento geográfico e epistemologia em geografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010
Fonte: Adaptado de GODOY, Paulo Roberto Teixeira. História do pensamento geográfico e epistemologia em geografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010
Boa síntese dos principais paradigmas do pensamento geográfico, com interesse para se verem as potencialidades e limitações de cada um deles em relação ao ensino da geografia.
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